21 de fev. de 2009

“A Nacionalização dos bancos é a única solução”, diz Stiglitz

21.02..2009
Separar propriedade e controlo dos bancos é o caminho para o desastre.apesphere/FlickrNuma entrevista ao jornal alemão Deutsche Velle, o Nobel da economia Joseph Stiglitz fala da nacionalização dos bancos, do futuro dos países em desenvolvimento e da necessidade da criação de uma entidade reguladora financeira internacional.

Joseph Stiglitz venceu o Nobel da economia em 2001. Sob a presidência de Bill Clinton, Stiglitz trabalhou como presidente do conselho de assessores económicos entre 1995 e 1997. Foi o economista responsável no Banco Mundial entre 1997 e 2000, e foi o autor do relatório intergovernamental sobre as alterações climáticas, que viria a partilhar também o Nobel da paz em 2007, actualmente é professor na universidade de Colômbia em Nova York.

Muitos entendidos receiam que embora o panorama da crise actual nos pareça bastante negro, o pior ainda está para vir. Partilha da opinião que estamos face a um longo declínio que apenas pode ser comparado ao da grande depressão?

Vivemos num mundo muito diferente do que o que se vivia na altura da grande depressão. Na altura tínhamos uma economia artesanal apoiada na manufactura. Agora temos uma economia muito mais avançada e estruturada, apoiada nos serviços. Muitas pessoas nos Estados Unidos trabalham actualmente em part-time (a tempo parcial) porque não conseguem arranjar um emprego a tempo inteiro. As pessoas falam de números aceitáveis de desemprego, mas estes mostram que o desemprego apresenta uma taxa muito alta, cerca de 15%. É obviamente uma visão bastante pessimista.

Outra grande diferença entre a actualidade e a altura da grande depressão é a de que na altura não possuíamos uma rede social organizada (sustentada), actualmente já possuímos subsídios de desemprego.


Os economistas Nouriel Roubini e Nassim Taleb, que previram a queda da economia global, sugerem a nacionalização dos bancos como medida a adoptar para parar o colapso financeiro, concorda?

Na verdade, os bancos não se encontram de boa saúde. O governo americano injectou centenas de biliões de dólares, sem qualquer efeito prático. Os bancos estão falidos. Os americanos são actualmente donos de um número bastante grande dos principais bancos. Mas não possuem qualquer controlo no funcionamento dos mesmos, e qualquer sistema em que exista uma separação entre a propriedade e o controlo, só pode conduzir ao desastre.
A nacionalização é a única solução para estes bancos falidos.


O Instituto Financeiro Internacional calcula que o capital privado destinado a ajudar os países em desenvolvimento vai ser reduzido em cerca de dois terços. Será que estamos perante uma situação em que iremos observar um colapso total de muitos países em desenvolvimento?



Penso que muitos governos de nações emergentes, possuem de facto, um sistema bancário central muito melhor do que o dos EUA. Eles compreenderam os riscos do excesso de influências, a dependência excessiva de empréstimos para o sector imobiliário, e assim foram tomando precauções. Muitos países em desenvolvimento foram acumulando grandes reservas, e estão agora numa melhor posição para enfrentar a crise do que estavam há uma década atrás.
Mas alguns irão deparar-se com bastantes dificuldades, mesmo congelamento de salários. Alguns destes países sofrem agora por terem prestado demasiada atenção ao que se passava nos estados unidos.


Deverão ser implementadas medidas para ajudar estes países em desenvolvimento?

Definitivamente, penso que é absolutamente imperativo, não só para os próprios interesses destes países, não apenas vendo a situação de uma perspectiva humanitária, mas numa perspectiva de proporcionar uma estabilidade global. Não é possível possuir uma economia global forte enquanto existirem instabilidades económicas em algumas zonas do mundo.

O banco Mundial apelou aos países industrialmente avançados para que á medida que vão “ajudando” as suas indústrias e injectando subsídios, canalizem algum dinheiro para ajudar os países em desenvolvimento, que não podem competir neste cenário desigual.


O presidente norte-americano Obama criticou os bancos por pagar biliões de dólares em regalias aos executivos enquanto os mesmos se encontravam a um passo do abismo. Concorda com Obama quando ele diz que o comportamento dos bancos é vergonhoso e irresponsável?

Sim. É vergonhoso e irresponsável, mas não uma surpresa. Durante anos, os executivos de empresas americanas defenderam estas compensações escandalosas, dizendo que era importante e que fazia parte de planos de incentivo. Mas como se podem dar regalias de milhões de dólares quando a própria empresa tem perdas de biliões de dólares? A não ser que se recompense os empregados pelos fracassos, esta medida não tem lógica, os trabalhadores deviam ser castigados e não recompensados.


No seu discurso durante o fórum sobre a economia mundial a chanceler alemã Merkel acusou os Estados Unidos de proteccionismo e criticou os subsídios dados aos fabricantes americanos de automóveis, concorda com ela? Pensa que existe perigo dos Estados Unidos implementarem medidas proteccionistas?

Provavelmente sim. Sempre tivemos noção de que o proteccionismo engloba duas formas: as tarifas e os subsídios. Os subsídios distorcem o “campo de jogo” da mesma maneira que as tarifas. Aliás, os subsídios são mais injustos e disformes do que as tarifas, porque embora os países mais desenvolvidos se possam dar ao “luxo” de atribuir subsídios, os países mais pobres não. Os países mais ricos estão a distorcer as “regras do jogo” ao dar grandes subsídios, não necessariamente como medida de protecção mas como consequência da própria protecção.


Merkel apelou recentemente a criação de um organismo internacional de regulação financeira e isto provocou um consenso entre todos os países. Pensa que isto poderá ser uma realidade, que governos e empresas estarão dispostos a abdicar da sua soberania e delegá-la a uma entidade internacional?

A ideia de Merkel é muito importante e tem todo o meu apoio, é necessário existir uma coordenação da política económica global que vá mais além do que a implementada pelo FMI (que fracassou) e o Banco Mundial. Não se pode afirmar que se tem as fronteiras abertas sem uma regulação global. É inconcebível que se aceite produtos financeiros de alto risco produzidos em países com regulações inadequadas, e que estes sejam aceites pelos Estados Unidos e vice-versa. As empresas internacionais a favor da globalização deveriam estar na vanguarda deste apelo, e a favor da criação de um regulamento internacional

Joseph Stiglitz foi entrevistado por Michael Knigge.

Tradução de Nuno Miguel

Fonte: http://www.esquerda.net/

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13 de fev. de 2009

Por que non un cambio de rumbo?

A declaración ante o Congreso dos Deputados do agora presidente da patronal bancaria e antes subgobernador do Banco de España, Miguel Martín, non ten desperdicio. Na súa opinión, en España foi a economía real a que puxo en risco ao sistema bancario e non ao revés, como todo o mundo cre.

Xa comentaba nun artigo anterior a campaña de intoxicación orientada a facer crer que a banca é unha vítima máis, en lugar da directa responsable do desastre financiase que arrasa ao mundo e que provocou unha crise na economía real quizá sen precedentes. Estas declaracións son unha manifestación palpable de tal empeño.

Seica se pode manter con fundamento que a banca española conforma un sistema completamente alleo ao que sucede nos mercados financeiros mundiais? Seica é imaxinable que o que aquí poida estar ocorrendo é independente do que pasa na economía financeira internacional e que o que ocorre no sistema bancario mundial nada ten que ver co noso? Pode crerse que o financiamento da burbulla inmobiliaria española foi un fenómeno completamente distinto ao doutros países e non, ata, máis grave, aínda que quizá non se produciu exactamente a través dos mesmos recurso? E é factible que o endebedamento privado que propiciou principalmente a banca, entre outras cousas como consecuencia da demonización do público, non teña consecuencias sobre os seus niveis de solvencia e que non teña nada que ver coa incapacidade que agora mostra para desempeñar a función que teoricamente lle corresponda? Seica poden estar de acordo coa patronal bancaria as ducias de miles de persoas, empresarios e consumidores, que non obteñen senón negativas cando agora solicitan créditos que permitirían evitar que a actividade económica afúndase sen remedio?

Poden parecer preguntas de respostas obvias pero me temo que ao cabo terminen por ter as que lle convén á banca porque o seu poder e capacidade para convencer estase mostrando bastante maior que o do goberno e o do partido que o sustenta.

Por unha banda, o discurso dos banqueiros parece demagóxico pero é que o goberno e as organizacións de esquerda apenas se está logrando transmitir á cidadanía unha percepción clara e alternativa do que está ocorrendo. Non pode bastar con que o goberno reclame timidamente aos banqueiros que se esforcen ou que se impliquen coas políticas do goberno.

En realidade, os banqueiros españois están facendo perfectamente o seu labor, gañar diñeiro, Aí están os beneficios que acaban de declarar xusto cando o resto do país tense que apertar o cinto ou ata perde o emprego.

O que ocorre é que esa función está mostrando ser incompatible coa que necesita a economía nacional nestes momentos (e quizá en todas as circunstancias).

Os do "o afán de lucro insoportable" de quen falou o presidente Zapatero nalgunha ocasión non poden ser outros que estes banqueiros cos que senta na Moncloa, pero é que o que fan non é do todo recriminable se se aceptan os principios que gobernan o noso sistema económico. Fan xustamente o que a maioría dos profesores ensinan e recomendan aos seus alumnos nada máis chegar a calquera facultade de ciencias económicas ou escola de negocios: maximizar o seu beneficio individual.

A cuestión á que teriamos que enfrontarnos pero que nos últimos anos convencéullenos para que deixemos de lado é se convén deixar que os intereses xerais, que agora vemos ata que punto están severamente lesionados, poden quedar ao albur dese afán.

Pola contra, se nos enfrontamos sinceramente ao que está ocorrendo quizá non nos quedase máis remedio que reflexionar autocríticamente. Por que non facelo? por que non recoñecer, por exemplo, que renunciar á banca pública (pero non a calquera, como correu coas caixas, senón a unha banca exclusivamente ao servizo da actividade produtiva e baixo un control social autenticamente democrático) só beneficiou aos bancos privados que se fixeron con ela, e que esa renuncia estanos deixando agora atados de pés e mans?

Bótase de menos esa reflexión pero tamén a pedagoxía. Pedagoxía para explicar con máis claridade o que de verdade está sucedendo, para que non sexan só os grupos de opinión que directa ou indirectamente controlan os bancos os que proporcionan claves para entender as orixes da crise e as súas verdadeiras consecuencias. E para que poida forxarse un criterio moral colectivo que poña a cada un no seu sitio, facendo que todos soportemos a cota parte de responsabilidade que podamos ter na xeración dos problemas sociais.

Claro que é tamén evidente que para iso se necesita tamén maior lucidez, información máis rigorosa e mellor asesoramento. Non é fácil que un goberno poida estar tomando hoxe medidas eficaces contra unha crise como esta cando menos dun ano antes, cando xa todo o mundo recoñecíaa, afirmábase que "non hai risco de crise económica".

A anticipación non é unha demanda caprichosa senón seguramente o que permite que os cidadáns adquiren o plus de confianza que os gobernos necesitan nas circunstancias difíciles e o que dá a seguridade que se precisa para que todo non veña a baixo a pouco que as cousas póñanse peores do que se estaba pensando.

E non é que non haxa anticipación por parte do goberno senón que desgraciadamente foise constantemente detrás dos acontecementos, e témome que iso estea dando lugar a que a moitos cidadáns cústelles xa demasiado traballo recuperar a empatía con el.

O presidente do goberno referiuse hai pouco aos estados de ánimo como compoñentes esenciais da vida económica. E leva razón, pero é precisamente por iso que debería coidar en moita maior medida os que crean os erros continuados nas previsións económicas, as medidas de ida e marcha atrás e, sobre todo, a constatación de que os principios tórnanse ramas voladizas que van dun lado a outro segundo o sopro de quen teñen máis fol e influencia social.

É verdade que a estas alturas e dado o contexto que as políticas internacionais crearon nos últimos anos, un goberno que quixese ser auténtica, e ata moderadamente socialdemócrata enfróntase a limitacións quizá insalvables. Pero é xustamente por iso polo que hai máis razóns que nunca para relanzar os proxectos socialdemócratas aos que tantas veces alude o Presidente Zapatero, e non só no ámbito das políticas sociais senón tamén e sobre todo no da política económica.

Precisamente porque hai limitacións para avanzar cara aos nosos ideais é polo que hai que avanzar cara a eles con máis forza e reivindicalos con máis firmeza.

Basta ver onde nos levaron o deixar de aplicalos. Só enganándonos a nós podemos admitir que a situación que vivimos non ten nada que ver coa renuncia aos impostos máis xustos e progresivos, á equidad fiscal e aos instrumentos máis potentes de redistribución, á centralidade do emprego decente e á satisfacción e a seguridade no emprego, á presenza pública en sectores como o financeiro ou o industrial, ao predominio da actividade económica real...

Por que empeñarnos entón en seguir unha vía que nos levou a este descomunal fracaso?

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